Nascido em Cuiabá, o poeta Manoel de Barros morreu hoje aos 97 anos de falência múltipla de órgãos em um hospital em Campo Grande
A poesia de um dos maiores poetas brasileiros da atualidade, responde ao desafio da lírica contemporânea de entoar um canto a natureza, sem recorrer aos clichês e a outras fórmulas gastas de expressão.
O poeta lança o seu primeiro livro, "Poemas concebidos sem pecado" em 1937.Com exceção de "Face imóvel" (1942), sua segunda obra, que enfoca ... See more Nascido em Cuiabá, o poeta Manoel de Barros morreu hoje aos 97 anos de falência múltipla de órgãos em um hospital em Campo Grande
A poesia de um dos maiores poetas brasileiros da atualidade, responde ao desafio da lírica contemporânea de entoar um canto a natureza, sem recorrer aos clichês e a outras fórmulas gastas de expressão.
O poeta lança o seu primeiro livro, "Poemas concebidos sem pecado" em 1937.Com exceção de "Face imóvel" (1942), sua segunda obra, que enfoca o quotidiano da segunda guerra mundial, predomina na lírica manoelina a paisagem mato-grossense tão cara ao escritor. Ela é o cenário de uma obra fecunda onde ainda se destacam: "Gramática expositiva do chão"(1966); "O livro das ignorãças"(1993);"o livro sobre o nada"(1996); os três volumes das "Memórias Inventadas" (2005-2007) e "O fazedor de amanhecer"(2001), obra representativa da vertente de poesia para crianças.
Seu trabalho com a linguagem pode ser sintetizado em duas palavras: reinvenção e reciclagem.
Quanto à primeira, ao transitar com desenvoltura entre a realidade “factual” e a imaginária, Manoel de Barros se insere na vasta tradição dos poetas fingidores, celebrada por Fernando Pessoa. Vale lembrar que, para o autor das infâncias inventadas, o fazer poético é, antes de tudo, uma atividade profundamente lúdica, um compartilhamento da palavra-brinquedo.
Porém, o reino de Manoel só é aberto àqueles que são carentes de bens materiais, porém ricos em pobreza de espírito. Sua geografia poética acolhe, com imenso carinho, os entes, animados ou não, abandonados pelos cantos da estrada da vida Nela convivem democraticamente o andarilho coberto de andrajos, o louco, o velho, o solitário com formigas, lagartos e aves. O prego enferrujado, o cascalho, a lata amassada....e tantos outros artefatos aposentados de sua função primeira, que o vento varreu e espalhou pelo chão, encontram aí um espaço de florescimento poético. Dessa forma, sua poesia rústica recolhe e recicla amorosamente os despojos de uma civilização cansada, conferindo-lhes um novo sentido.
Nossa língua portuguesa tornou-se infinitamente mais rica com as "despalavras" de Manoel! ▲ Collapse
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